INSTITUTO CULTURAL FILHOS DE ARUANDA
POMBAGIRA É OU FOI PUTA?!
Texto de Marcelo Moreno
"Magia do Axé"
Vamos falar das pombagiras hoje. Bom, pra começar pombagira, pombogira, bombogira, todas essas nomenclaturas são corruptelas da palavra Bantu "Bongbogirá" que quer dizer exú. O costume adaptou essa palavra para denominar a companheira de Exu, o que é absolutamente aceito por elas.
Então, foram putas?
Não necessariamente, e essa questão é delicada. Estamos falando de uma religião (Umbanda) criada no começo do século XX, com espíritos remanescentes da escravidão, e de um Brasil precário e bem preconceituoso, onde a mulher era explorada das formas mais desumanas, e seus direitos praticamente não existiam. Quando esses espíritos começaram a incorporar traziam essa origem pobre, essa vida calejada, e sim, muitas foram putas para sobreviver, e isso era comum, pois se analisarmos o século XIX para trás a mulher era um objeto do homem.
Lembra da história de que a primeira impressão é tudo? Então, o estigma da puta ficou com as pombagiras.
Maaas esses espíritos souberam usar isso de forma maravilhosa, pois com esse rótulo levantaram a bandeira das que não tinham voz, pois toda mulher que sofria opressão as procuravam, por imaginar que por elas terem sofrido tanto poderiam acolhe-las, e era exatamente assim.
Mas então, eram putas? Sim e não. Alguns espíritos foram, outros não. Nem todas as pombagiras foram putas, muitas foram rainhas, condessas, advogadas, marquesas, trabalhadoras da indústria...mulheres comuns. Nós encarnados fantasiamos demais sobre a origem delas, que são trabalhadoras que passaram pela terra e trabalham no astral para auxiliar os encarnados.
Mas, porque estão sempre de peito de fora? Essas representações são somente imagéticas, herança desse passado, que particularmente, acho super válido. A pombagira é um símbolo de poder feminino, e não acho que seja ofensivo mostrar o que os homens também mostram e não são reprimidos. Claro que em uma gira isso não acontece, é preciso que tenhamos essa consciência, afinal o espírito SEMPRE vai respeitar o livre arbítrio do seu cavalo, não colocando-o em situações constrangedoras ou perigosas.
Por fim, as que foram putas são maravilhosas e MOJUBÁ! As que foram da nobreza também são maravilhosas e MOJUBÁ! Vamos acabar com esse preconceito nosso também de recriminar as que foram putas, porque Exú não exclui, só inclui, né?! Axé!
Marinheiros, quem são?
(texto sedido pelo blog http://luznaumbanda.blogspot.com.br)
Nesse texto gostaríamos de passar uma mensagem a respeito da figura e atuação dos Espíritos que se apresentam como marinheiros nas lides umbandistas e fora das mesmas também. Queremos retratar o papel desses indivíduos que anonimamente trabalham pelo bem dos seus filhos e filhas, como pescadores e curadores de almas.
Primeiramente vamos esclarecer uma coisa. Os marinheiros de Umbanda, ou seja, Espíritos falangeiros que se apresentam com essa roupagem, afirmando serem marujos, marujas, pescadores, rendeiras, ou até quem sabe canoeiros, não são Espíritos levianos e ignorantes!
Falamos isso pois o que mais vemos nas casas ditas de Umbanda, é uma manifestação ilusória, teatral e equivocada quando se trata de trabalhos que envolvam essa linha, a linha dos marinheiros.
Vemos médiuns e mais médiuns que ao "incorporarem" o dito espírito, manifestam uma atuação muito mais fantasiosa do que realmente mediúnica. Cambaleando excessivamente, se jogando para frente, pros lados, pra trás; falando coisas desconexas, injetando um sotaque de bêbado nas palavras do "espírito", creem estar incorporados.
Vemos rum, misturas alcoólicas de coco, pinga, serem distribuídas em excesso para os médiuns nessas giras, que mais se assemelham a festas, onde o que mais se vê é peixe assado e excessos cometidos por médiuns e dirigentes despreparados, que mais comem e bebem do que "trabalham" com os ditos espíritos.
Ficamos tristes com as impressões que já tivemos em casas que se portam desta forma. Parece que a cabeça dos médiuns está muito mais ligada com o fenômeno, e assim se deixam levar nesse teatro, cada um querendo aparentar estarem em alto mar, entre as ondas, usando clichês e posturas toscas.
Se soubessem da grandeza e seriedade dos trabalhos que esses espíritos realizam junto ou separados de seus médiuns no astral, nos terreiros e centros do Brasil afora...Ficamos nos perguntando: será que a espiritualidade ta necessitando de comilanças, beberagens e um monte de conversa fiada, ou, necessita de pessoas dedicadas com empenho e firmeza para trabalhar com esses falangeiros no desmanche de traumas emocionais e suas energias, limpezas das casas, dos consulentes, educação emocional e outras coisas mais que esses espíritos atuam?
Os médiuns ignoram que esses espíritos realizam tarefas inimagináveis no astral inferior, onde os mesmos atuam com a manipulação da força elemental do mar para destruição de antros de promiscuidade, bases e laboratórios das sombras que servem para os planos sombrios dos opositores das leis divinas?
Parando pra pensar, começamos a ver que a maioria dos umbandistas, adquiriram uma visão um tanto quanto deturpada desses espíritos, pois se limitam a reduzir o arquétipo do marinheiro como aquele cara que passava 6 meses em terra, 6 meses no mar, quando chegava nos portos enchia a cara para afogar as tristezas e saudades, procurava saciar a falta de um grande amor que ficou em casa, longe, com a presença de diversas mulheres e etc.
Vemos esse clichê se estendendo no comportamento dos "pseudo-guias" incorporados em seus médiuns, onde um marinheiro fica abraçado nas meninas bonitas da corrente, alegando que são as damas dele. Ouvimos histórias e mais histórias de como era difícil sua vida no mar, da sua saudade, da sua luta, das dificuldades e etc.
Agora nos perguntamos, será que todo espírito que se encontra nessa linha de trabalho foi necessariamente um marujo? Ou quem sabe ainda, teve problemas com a bebida e tinha várias companheiras com qual saciava sua vontade sexual e carência? Todo marinheiro foi capitão? (Essa é bem clichê, pois na maioria dos casos vemos que o dirigente de um centro tem que ser "cavalo" do marinheiro cujo é designado como "capitão fulano de tal").
Esquece-se que a atuação dessas falanges engloba diversos aspectos, tendo espíritos que trabalham na defesa das casas, na desobsessão, na condução de bolsões de espíritos, no desmanche de magias negras e feitiçarias, na educação moral e consciencial, todos sendo marinheiros.
E será que a maioria deles foi marujo? Porque não podem terem sido pessoas simples, que viveram nas regiões litorâneas, espíritos que tiveram encarnações como esposas de pescadores, ou pescadores? Quem sabe espíritos que faziam algum tipo de artesanato para sobreviver nessas regiões, e que durante suas vidas e outras encarnações, tendo afinidade com essa energia aquática, ligada ao âmbito emocional e curador, não vieram a angariar conhecimentos, sabedoria de vida?
Vemos nitidamente o ego, o achismo, a falta de conhecimento dominando as mentes do incautos, que acham que ser médium é só ir no dia do terreiro, vestir o branco e incorporar - Pronto! Fiz minha caridade!
Em sua grande maioria não se dá bola pra estudo, não se investe em grupos de experimentação e desenvolvimento mediúnico, e o resultado é esse, fantasia, ilusão e "teatro de congá".
Fica muito fácil dar palpite na vida dos outros, criando trejeitos que se copia do outro, inventando pontos riscados, se vestindo à caráter, enquanto a sua própria vida continua a mesma, mal resolvida emocionalmente, bagunçada, e cheia de inseguranças, inclusive nas questões relativas a "Quem são meus guias?", "Sou eu ou sou o guia", "Que tipo de médium sou eu?", e por ai vai!
Gente, marinheiro é povo simples! Marinheiro é povo feliz! E felicidade não se resume a gente rodopiando, cambaleando ou se esforçando para falar e não ser entendido!
Há quem diga: "Mas o magnetismo deles é aquático, nas forças de Iemanjá, por isso eles ficam dessa maneira!". Pra esses respondemos, ta certo, todos são assim? Para um Espírito desempenhar certo papel magnético, na força que lhe é mais peculiar, ele necessita se remexer constantemente, ou o magnetismo funciona de outra forma?
Quando se estuda a respeito da influência da mente sobre o fluido, e se compreende a característica da propagação do pensamento e sua atuação sobre os diversos planos, vamos compreendendo que não é bem assim que funcionam as coisas. Quem sabe, estudemos também, a respeito dos reinos elementais, planos dimensionais e volitação?
Podem existir espíritos, que sim, podem ter um magnetismo tão intenso que o médium fica cambaleante, mas ai é o Espírito que movimenta ele, sem que o médium faça um esforço sequer, e ai entramos em outro fator, "o médium achando que deve fazer" e o espírito, propriamente dito, fazendo o médium se movimentar sem o comando nervoso do médium.
Pois é, existem pessoas que incorporam a anos e nunca experimentaram essa sensação, alegam estar dando aconselhamentos e consultas, "incorporados", num tipo de "incorporação intuitiva"...
É simples! Estude mediunidade, se desenvolva, e veja que ou tens uma faculdade de intuição mais aguçada, ou és um médium de incorporação, mecânico ou semi-mecânico, consciente ou semi-consciente. Incorporação intuitiva não existe! Existe sim médium em desenvolvimento, onde ainda a ansiedade, a falta de confiança passa na frente do guia, impedindo o mesmo de trabalhar como gostaria... e gente... o médium nessa situação não deve trabalhar dando aconselhamento, no máximo passes, sem conversações.
Deixemos essas questões para próximo texto, e voltemos aos marinheiros...
A sensação que temos quando estamos envolvidos e em contato com esses espíritos é de extrema simplicidade. Eles nos passam essa tranquilidade de viver, sem desejar muito, sem precisar de tanto assim para ser feliz. Trazem a calma pra nossa alma, pras emoções agitadas que, muitas vezes, conduzem a nossa vida. Nos ensinam a gerenciar nossas emoções de maneira feliz, sem martírio.
Transpirando amizade, zelo e carinho, nos aconselham, nos demonstram que estão junto das nossas mazelas, e podem nos demonstrar a como conduzir o barco. Basta olhar para o modo que se portam, extrema simplicidade, sorriso no rosto, descomplicando nossas questões mais complicadas, e nos mostrando que tudo tem resolução, em maior ou menor tempo.
Marinheiro traz força geradora nos campos que forem necessários gerar algo. Como também podem trazer uma força que paralisa, para evitar maiores danos e desconfortos a nós mesmos.
Pessoal! Lembremos que as falanges de Umbanda, com seus diversos nomes simbólicos, agem como meios de identificar os espíritos de acordo com sua área de atuação, a quem devem responder sobre seus atos, deixando-os no anonimato, escondendo os nomes das suas ultimas encarnações para evitar o endeusamento provocado por nós.
Deixemos de lado, a nossa vontade de ter o guia especial, "diferentão", com vivências e roupagens exóticas, e foquemos no que realmente importa, a essência e o fundo moral, consciencial e benéfico que o espírito tem para nos passar e ensinar em suas comunicações e atuações.
Hoje eu recebi um abraço de um marinheiro. Senti, naquela situação, não um Ser de outro mundo, com super poderes aquáticos, mas sim um ombro amigo, que não precisou falar nada bonito não, só que estava junto comigo, e foi o suficiente pra eu sentir um carinho tão grande, uma calma, que me fez parar e aproveitar esse contato, repensando nas minhas experiências de vida.
Nesses poucos segundos que durou o abraço, pude sentir um pouco do que o "Marinheiro" queria me passar.
É simples! Um ser humano, trabalhando por outro ser humano, com amor, simplicidade e carinho. Simples gente! Simples!
Agradeço por esse carinho, essa vida, esse amor que recebemos desses queridos Espíritos!
Carinho, força e fé constante, como as ondas do mar, constantes!
UMBANDISTA E A VAIDADE
11 de Janeiro de 2016
A falta de união entre os terreiros de Umbanda está relacionada à vaidade e ao egocentrismo de determinados dirigentes umbandistas. A vaidade é como um veneno que contamina a alma do indivíduo. É um entorpecente letal que, se não for cuidado em tempo, levará o sujeito a um desfecho completamente irreversível. Essa mesma vaidade é ainda um mal que destrói a verdadeira missão da Umbanda: a Caridade!
Normalmente, a vaidade começa com um pequeno elogio: "Nossa, Fulano trabalha bem naquele terreiro!" ou " Fulano tem um 'Guia' muito forte..."
Enquanto elogios desse tipo não chegam aos ouvidos do Fulano, tudo anda bem. Porém, a coisa começa a degringolar quando tais palavras alcançam o desavisado. É realmente um veneno, mas só se o alvo deixar entrar em sua corrente sanguínea. Aí, não tem jeito...
O Fulano, movido pela vaidade, passa a se achar o bambambam da Religião. Acredita que só ele é quem detém as chaves dos mistérios umbandistas. Só ele tem a melhor incorporação: a mais forte. Pensa que só o seu caboclo é quem tem o poder de desfazer todas as demandas; só o seu Exu é quem é o Cabra mais poderoso; só o seu preto-velho é o mais iluminado. Tudo isso toma uma proporção maior ainda quando o Fulano é o "dono" do Terreiro onde ele diz que pratica a Caridade.
Contaminado pelo veneno da vaidade, o Fulano passa a desfazer dos outros "terreirinhos" ao redor. Acredita que só o dele é que tem os verdadeiros e únicos fundamentos da Religião; só o dele é que segue o verdadeiro ritual; só o dele é que tem a raiz mais profunda; só os seus antepassados é que praticavam a "verdadeira" Umbanda... Tudo isso é triste... Mas, aliado à vaidade, surge o egocentrismo de certos dirigentes.
Do alto do ilusório pedestal, o Fulano passa a ser o Senhor das Duas Torres (acho que já vi esse filme...): a vaidade e o orgulho! O Terreiro passa a ser uma extensão de si mesmo. Toda a sua vaidade e o seu ego inchado refletem no terreiro que ele comanda... O ritual já não tem a simplicidade do início. Suas vestes já não são mais tão simples como quando despertou o primeiro amor pela religião... Até os médiuns mais novos alimentam um certo orgulho de pertencerem ao "melhor" centro de Umbanda. Já não vêem com bons olhos os trabalhos realizados pelos mesmos Guias de sua casa no Terreiro vizinho. Acreditam que os médiuns do terreirinho da esquina estão mistificando e que os Guias de lá, não são Guias.
Egocêntrico, vaidoso e cada vez mais alienado das novidades da Religião e do crescimento de outras casas, o Fulano embebeda a todos com sua filosofia sem fundamentos do que é a verdadeira Umbanda... Despeja uma infinidade de pedras nas casas alheias; passa a criticar as atitudes dos outros pais de santo, dos outros chefes de terreiro; diminui o trabalho dos novos umbandistas (ainda mais se esses abrem um novo terreiro para a prática simples da caridade...); inicia a apresentação de um ritual rebuscado, cheio de inovações, poluído de mundanismo; ofuscante de tanto brilho e de tanta pompa.
Ora, se tais desvios de comportamento e de conduta ficassem restritos ao seu terreiro, seria bom... O problema fica pior quando o terreirinho da esquina, aquele que foi tão humilhado e execrado, aquele que conservava uma simplicidade sem par, o mesmo que era tão humilde e simples, se envereda pelo mesmo caminho do "Majestoso" e passa a disputar as atenções do público...
Bem, não é necessário enumerar e explanar sobre as mesmas atitudes do outro terreiro. Todas os atos e pensamentos são idênticos! Como se esse estivesse contaminado pelo mesmo vírus, ou pelo mesmo veneno. Seria redundância falar sobre o que o agora nada-humilde terreiro faz "em nome da caridade".
A união é impossível diante de quadros como esses...
Como unir dois potentes vaidosos e egocêntricos? Quem brilhará mais? Qual dos dois irá deter o título de "melhor"? Qual deles tem a raiz da Umbanda?
Onde houver vaidade, não subsistirá a Caridade.
Fonte: http://centropaijoaodeangola.net/texto/umbandista_e_a_vaidade.htm